Na primeira sessão de introdução do internato da especialidade, um senhor de fato que não me recordo do nome ou face disse que em breve teriamos novos computadores.

Quando entrei na USF que escolhi para aprender a ser especialista em Medicina Geral e Familiar, o interno padrão, dos quais haviam demasiados para o espaço que ocupavam, estava condenado a trabalhar com um Pentium 4 com 1Gb de RAM nos dias em que tinha gabinete para trabalhar. Isto foi há menos de quatro anos atrás. O sistema Medicine One arrancava e absorvia imediatamente todo e qualquer bit que não estivesse entretido com o Windows XP. Abrir uma página do internet explorer para tirar uma dúvida era o equivalente a despejar água e sal na motherboard. Eu era uma pessoa feliz porque ainda fazia consulta ombro-a-ombro e estes problemas não me diziam respeito. O colega que tinha entrado imediatamente antes de mim referiu que lhe tinham dito à entrada que receberiam computadores novos em breve.

Percebi que a palavra “breve” tem outro significado no internato médico.

Os especialistas tinham equipamentos ligeiramente melhores. Core2duo com 2Gb de RAM era um pequeno luxo, utilizá-los era como estar num anúncio de computadores dos anos 90, alegria e excitação desproporcionada. Os anos passaram e a alegria desvaneceu-se com o tempo e aplicações mais pesadas.

Entretanto comecei a ter autonomia e passei para as minas. Antes de poder iniciar a consulta era certo que teria de esperar 10-15 minutos para o carvão do núcleo único do meu computador conseguir aquecer e enfiar Moscovo num quarto de estudante lisboeta.

Tivemos uma pequena falhada experiência de terminais “NComputing”. Esqueceram-se que estes precisam de um servidor, e a unidade apenas tinha uma batata ligada à rede.

Eventualmente a coordenadora anunciou a chegada dos reis magos, e que trariam silica, metal e cobre. Efectivamente deram entrada na unidade uns fantásticos Core i5 com RAM decente, ecrãs grandes e teclados que não eram contemporâneos de Mozart.

Os internos ficaram a vê-los ser montados para os orientadores.

Há alguns meses vieram novos computadores, dentro da mesma linha. Estes foram para as administrativas e enfermeiros. Consegui negociar trocar um dos nossos teclados que tinha teclas que já não funcionava e um rato que dava duplo-click constantemente por um dos que iria para abate e estava menos mau.

Este tem sido um problema constante no internato. O interno não faz parte do serviço, o gabinete de interno não faz parte do edifício. Estou sentado actualmente ao lado de uma impressora que não funciona. Esta veio substituir outra impressora que não funcionava. Essa foi trazida directamente da sede do ACES como “reparada”. A situação arrasta-se há mais de 1 ano. Noutro gabinete de internos um otoscópio aguarda reparação.

“Reportem”.

Já foi reportado, nada acontece. E certas coisas não deveriam ter que ser reportadas. Um serviço que tem um fluxo constante de internos deve providenciar equipamento similar para estes tal como o faz para os especialistas. Para o bem e para o mal, somos prata da casa.