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Considerações acerca do exame da especialidade
Nestas últimas semanas estive atarefado a pintar metaforicamente um ponto final gigante no que foram 11 (ou 10, ou 12, consoante a forma de contar) anos de formação, e que culminarão na eventual atribuição do título de especialista à minha pessoa. As notas finais ainda não estão lançadas, logo tudo pode acontecer. No entanto os CTT perderam uma encomenda minha no valor de 190£ ainda hoje, portanto a quota de azar está preenchida pelo mês… espero.
Em primeiro lugar, tenho que agradecer ao júri que me foi atribuído. Nunca me dei particularmente bem com exames orais, mas ver um sorriso do outro lado da mesa ajudou a tornar a experiência menos terrível.
A elaboração do CV médico é uma experiência de tortura psicológica apenas ultrapassada por uma maratona de binge-watching de televendas da CMTV. No entanto, no final, permitiu-me ver como evoluí ao longo de quatro anos, medica e informaticamente. A complexidade de programas que fiz foi aumentando, até que no último ano passaram a ser de consumo humano.
Infelizmente vi-me ao espelho há dois dias e descobri que o meu cabelo também evoluiu, particularmente na coloração e dimensão de entradas.
O exame prático foi a pior experiência que tive numa avaliação. E isto conta com as orais de anatomia. A certo ponto, o júri pensou que eu estava a ter um enfarte. Pela incapacidade do meu cérebro elaborar um questionário coerente, seria mais provável o AVC.
Se o exame teórico ganhasse um prémio, seria certamente um 2º lugar. Creio que uma pessoa teria boa probabilidade de ter uma nota bastante satisfatória se apenas estudasse as segundas linhas de terapêuticas, as doenças de frequência ligeiramente inferior, e claro, questões de direito e ética médica (que para o Médico de família é aparentemente a segunda linha da Medicina). Felizmente o meu cérebro é adepto em decorar detalhes que me serão 96% inúteis nos anos vindouros.
No meu tempo de clausura, passou um Natal, um Carnaval e o nascimento do segundo filho da minha prima. Assisti a tudo isto pelas fotografias nas redes sociais, lembrando-me de todos os sacrifícios que a Medicina me obrigou a fazer.